Manhã, tão bonita manhã

Eu adoro ver o amanhecer. A luz que vai surgindo aos poucos, os tons de laranja e amarelo, o preto se tornando azul. O sol subindo devagarinho no horizonte. A natureza começando a se manifestar, deixando a quietude. Os carros saindo das garagens, a cidade ganhando vida. É uma hora mágica, do recomeço. Um novo dia, novas possibilidades.

Mas pra mim esse é um momento pra ser vivido antes de ir dormir e não ao acordar. Você passa a noite tomando cerveja e conversando com os amigos ou mesmo lendo um bom livro, aí percebe que a luz começa a aparecer, vai lá fora (ou até a janela), aprecia o lindo amanhecer e vai pra cama com os passarinhos cantando. Daí dorme até meio-dia e começa o dia. Pra quem, como eu, detesta acordar cedo, é assim que se vê o dia nascer, porque acordar antes da alvorada — antes das oito na verdade — é muito, muito sofrido.

Sei que o ideal é a gente seguir o movimento da natureza, entrar em repouso e em atividade junto com ela. Mas essa não é a minha natureza. Minha mãe diz que desde bebê eu sigo esse ritmo de dormir e acordar tarde. Acho lindo, de verdade, pessoas que levantam cedinho, que conseguem, por exemplo, fazer aula de inglês às sete da manhã. (E aula presencial!) Pra mim é totalmente impossível. O máximo que consigo é a aula de tai chi chuan às oito. Pelo zoom, na sala de casa.

Além disso, o meu despertar é lento. Gosto de silêncio — meu e alheio — ao levantar. Nada de “bom dia, dia”, nada de música, de conversa, de barulho. Lembro o terror que eu vivia quando era meu pai que me levava pra escola: o rádio do carro num volume desproporcionalmente alto com aquele maldito “vambora, vambora, olha a hora, vambora, vambora. Em São Paulo, sete horas e treze minutos. Repita. Sete horas e treze minutos. Repita. Sete horas e treze minutos“. Isso traumatizou a minha geração e contribuiu muito para a formação do meu notório mau humor matutino.

Já cheguei a achar que isso era um desvio de caráter, que eu não era uma pessoa digna de viver em sociedade por não conseguir acordar cedo. E já perdi as contas de quantas vezes falei pra mim mesma “a partir desta semana eu vou levantar às sete todos os dias”. Inútil. Na primeira bobeada lá estou eu acionando o soneca do despertador pela quinta vez. Depois fico inconformada, afinal sete horas não é nenhuma madrugada. Quanta gente já está trabalhando há tempos às sete da manhã. Quanta gente levanta às cinco. Me sinto envergonhada. Vou deitar decidida a mudar de vida de uma vez por todas. E toda a minha resolução dura até a manhã seguinte, quando a cama me abraça, me segura e não me deixa sair de jeito nenhum.

Soy una rata!

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